segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Bons leitores são bons Alunos em qualquer disciplina!

Quando a garotada lê bem (e compreende o que lê), tem mais chances de sucesso. Muitos professores já descobriram isso. E você?

Trabalhar redação e leitura é tarefa de todos os professores, não só dos que lecionam Língua Portuguesa. A capacidade de entender e produzir textos é fundamental em qualquer disciplina, de História até Matemática. Cada área tem textos com características específicas e não dá para deixar tudo por conta do professor de Língua Portuguesa. "Não é que agora todo mundo tem de ensinar português e cuidar da correção ortográfica", diz a consultora Maria José Nóbrega, de São Paulo. "Só o professor de cada área sabe se o texto que ele pediu está correto em termos de vocabulário ou clareza da argumentação, por exemplo." É comum o professor de Matemática propor um problema às crianças e perceber que muitas teriam conhecimento para solucioná-lo, mas não conseguem chegar lá porque não entendem o enunciado. "Há alunos que sabem o raciocínio, mas têm dificuldade de escrever e de ler corretamente", diz Kátia Smole, coordenadora do Mathema, empresa de consultoria em educação matemática de São Paulo

Textos científicos ensinam a comparar opiniões
O estudo de texto nas aulas de Língua Portuguesa costuma se restringir a narrativas de ficção, relatos pessoais (como cartas) ou, no máximo, notícias tiradas da imprensa. Para o estudante, isso não é suficiente, porque há muitos outros tipos de texto que ele precisa compreender. "Cada área deve investir nos gêneros que fazem parte do seu dia-a-dia", diz Maria José. Foi por isso que Daniel Helene, professor de História da Escola da Vila, de São Paulo, resolveu propor um trabalho de leitura e redação de texto técnico aos alunos da 5ª série, um dos 12 projetos vencedores do Prêmio Victor Civita Professor Nota 10 de 2004 (leia reportagem).
Com essa atividade, Daniel conseguiu o que queria: familiarizar a garotada com a escrita científica, que exige planejamento prévio para organizar idéias e atenção à clareza dos conceitos. A turma compreendeu que a linguagem formal facilita a comunicação com o leitor que não se conhece. Por isso, ela é a mais eficiente quando se escreve um texto para ser publicado, seja no jornal da escola ou em sua página na internet.
Os textos de ciências humanas têm outras características peculiares, como revelar a ideologia do autor e expor visões diferentes sobre um tema. Se os alunos forem acostumados a ler vários modelos de texto (de documentos oficiais a ensaios científicos), vão desenvolver espírito crítico para perceber essas nuances. Em pouco tempo saberão expor as próprias idéias por escrito, com argumentos destinados a convencer o leitor.

Na Matemática, o desafio é traduzir palavras em símbolos
A atividade com texto nas aulas de Matemática envolve outros desafios, como a relação entre duas linguagens diferentes as palavras e os símbolos matemáticos. Só o professor da área pode trabalhar satisfatoriamente a combinação de linguagens presente na resolução de problemas. Para solucioná-los, pede-se ao aluno que traduza uma situação inicialmente descrita em palavras para uma forma mais abstrata, composta de números e sinais.
Isso leva a criança a desenvolver habilidades de raciocínio e representação, que ela poderá usar em outras situações, cada vez mais complexas. Resolver uma questão matemática com desenhos pode ser um bom começo para que a garotada das primeiras séries se sinta à vontade no trânsito entre as duas linguagens. Por exemplo: peça que os alunos, por meio de desenhos, distribuam nove lápis em três estojos ou 12 bolas entre quatro crianças.
O trabalho com leitura e escrita em Matemática já pode ser proposto nas primeiras séries. A atividade em grupo é muito produtiva nessa fase, tanto para desenvolver habilidades de comunicação quanto para revelar ao professor e aos próprios alunos o quanto aprenderam e quais dificuldade ainda têm.
A professora Mirela Landulfo, do Colégio Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, utiliza textos nas aulas de Matemática desde a 2ª série. Para ela, essa é a melhor forma de levar as crianças a refletir sobre o que aprendem. Para ensinar tabuada, por exemplo, ela usa jogos e histórias em quadrinhos e depois pede que os alunos escrevam sobre a experiência. Os relatos dos estudantes sobre o Bingo da Tabuada em que eles têm de achar o resultado de uma multiplicação em suas cartelas de números mostraram a Mirela que alguns ficavam atentos às peças do jogo, outros às regras e os demais ao conteúdo matemático. Com base nisso, a professora concluiu que deveria continuar investindo na atividade até que a maior parte da turma constatasse, sozinha, como funciona a tabuada e também avaliasse o próprio aprendizado.
Para que a garotada da 7ª série conseguisse passar aos colegas os conceitos aprendidos, a professora Neide Pessoa dos Santos, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Afrânio de Mello Franco, em São Paulo, realizou uma atividade que envolveu todas as turmas. Primeiro, propôs um problema aos alunos de uma classe. Depois, cada um escreveu uma carta, com indicações sobre a resolução, para um colega anônimo de outra sala. O tal colega mais tarde enviou uma resposta, avaliando as dicas recebidas e contando como solucionou o problema. "O exercício pedia um cuidado especial com o texto e ampliou o vocabulário matemático dos meninos", diz Neide. O empenho das turmas foi tão grande que os professores adaptaram a experiência, com sucesso, para o laboratório de informática. Os alunos ensinaram uns aos outros, por escrito, como desenvolver um software que constrói mosaicos.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0180/aberto/mt_242060.shtml